Izabel Eri Diehl de Camargo, Caminhos da Vida

"São os passos que fazem o caminho". Mario Quintana

Textos

Um cálice de vinho
           
Algumas entidades culturais de Porto Alegre costumam oferecer palestras abertas ao público. Não sinto inveja do trabalho de médicos, mas, quando tomo conhecimento de que o palestrante é um famoso, estou lá. Uma das palestras que assisti, para minha surpresa, era direcionada a pessoas de terceira idade. O assunto principal foi sobre a bebida mais charmosa de todas - o vinho.
O palestrante destacou a importância de ingerir-se um cálice de vinho tinto ao dia, isto para adultos maduros, com uso moderado – até 100 ml, porém, sem receita médica. Para ilustrar sua fala, fez breve histórico sobre a bebida. Chamou atenção da plateia, dizendo que na antiguidade, o vinho teve um papel importante na evolução da medicina. Os papiros do Egito antigo traziam receitas baseadas em vinho. O grego Hipócrates, pai da medicina, “cerca de 450 a.C.”, recomendava o vinho como desinfetante e parte de uma dieta saudável. No século II d.C., Galeno, famoso médico da Roma antiga, empregava o vinho na cura de feridas dos gladiadores. Lembrei-me de que no Século XI, na Universidade de Salermo (Itália), a importância do vinho sobre a dieta foi codificada. O uso medicinal do vinho continuou por toda a Idade Média e, até o século XIII, de acordo com a lenda de Heidelberg, na Alemanha, era mais seguro beber vinho do que água. A curiosidade brilhou nos olhos da plateia e o médico retrocedeu para explicar a origem do vinho. Perguntou se alguém lembrava da história, então eu complementei, dizendo que os gregos associaram a figura do vinho a um Deus. Informei que Dionísio, filho de Zeus, era o Deus do vinho. Comentei que, na entrada da caverna, onde ele viveu, havia uma vinha. Dionísio era ainda adolescente, quando espremeu os cachos de uva maduros e bebeu. O jovem ficou impregnado de grande alegria ao perceber que o líquido espantava a fadiga, alegrava e fazia desaparecer os problemas. Neste momento foi inventado o vinho. A euforia foi tanta que Dionísio saiu pelo mundo ensinando a cultura da vinha e a arte de preparar o vinho.Continuei falando sobre história, pois a chamada bebida dos deuses estava presente nas cerimônias religiosas. Embora o vinho tenha sido produzido por Brás Cubas no ano de 1551, em São Paulo, foram os colonos italianos extremamente religiosos que trouxeram para o Brasil, não só a sua fé, mas a preciosa arte de fazer o vinho. O carismático médico prosseguiu, explicando o misterio de dois elementos contidos no vinho tinto – o resveratrol e os flavonóides. Informou que o resveratrol elimina as plaquetas que provocam coágulos e entopem as arterias; os flavonóides são antioxidantes, inibem a formação de radicais livres que deixam o organismo mais vulnerável a patologias. Afirmou que o importante no vinho tinto  é a presença dos elementos acima e não a do álcool. Alguém lembrou da celebração que os amigos fazem, quando erguem uma taça de vinho, dizendo: ‘ a saúde!’ Perguntei: “e as pessoas proibidas pelos médicos de ingerir bebida alcoólica devido a alguma patologia? E a Lei de Tolerância Zero?” Foi aquele alvoroço na sala. Pensei no jeitinho brasileiro, no bom sentido, é claro; e busquei alternativas.  Se o importante no vinho é a uva e não o álcool, porque não beber o suco de uva? Acredito que a alegria não seja a mesma, mas o efeito medicinal deve ser idêntico. O médico concordou comigo e teceu um comentário a respeito disso.Diz-se que ‘o vinho bom alegra o coração do homem’. Que tal intertextualizar:
– O suco de uva bom alegra o coração do homem, também. Manifestaram-se escritores e poetas, destacando a ligação fantástica entre vinho e literatura. Eles referiram-se ao vinho com os adjetivos mais delicados possíveis – aroma penetrante, sabor frutado, cor cristalina, gosto aveludado.
No Rio Grande do Sul, a literatura e o vinho encontraram uma forma especial de convivência, através do Concurso Nacional de Poesias sobre o Vinho, promovido pela Universidade de Caxias do Sul. A maior poesia está nas cantinas da Serra Gaúcha, como as de Bento Gonçalves, de Caxias do Sul, de Garibaldi, de Flores da Cunha, entre outras. É lá que os poetas preparam a fonte de inspiração para que outros escrevam. Mário Quintana diz em um dos seus poemas:
“Mudaste muitas vezes de pensamento, mas nunca de teu vinho predileto.”
Vamos levantar a taça?
A saúde do vinho gaúcho! 
  
                                                                                                
 
 


Izabel Camargo
Enviado por Izabel Camargo em 12/05/2013
Alterado em 18/05/2013
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