Aos domingos, os caipiras dos arredores da bodega do Lima, reuniam-se para bater papo e escutar as novidades que o dono da bodega trazia das visitas à pequena cidade vizinha. Era ano de eleições e, entre um e outro trago, o assunto rondava os nomes dos candidatos. As opiniões dividiam-se, mesmo sem compromisso com ideologias, discutiam sobre qualidades dos candidatos. Uns compadres disseram:
— Parece que o Juca honra o fio de bigode, merece confiança.
Na mesma hora, a maioria retrucou, dizendo: Será? Temos que pesquisar p’ra ver se ele não mente, porque quem mente rouba, é perigoso. Um moreno de olhos verdes interferiu. Cuidado! O Xico nem pensar, é comunista só quer pobreza para os outros, se ganhar a eleição, “a vaca vai p’ro brejo”, nos larga perau abaixo. Pelo amor de Deus não estraguem a minha vida, votando nele. Foi um alvoroço, surgiram outros nomes de candidatos, logo apagados com o predomínio dos mais graves defeitos. Só concordavam num ponto: é preciso seriedade, competência, empreendedorismo e boa formação moral. Confusão formada, ninguém se entendia, o Zeca, apaixonado pelo seu simpático candidato, armou uma briga de palavras, dizia: Não admito calúnia; vocês estão querendo difamar um homem sério, honesto, ele é o melhor de todos. O Lima, dono da bodega, procurou acalmar os ânimos, oferecendo, aos fregueses, uma roda de cerveja, pouco gelada. Voltaram a sorrir, começaram algumas piadas de salão. Bruno, metido a letrado, escutava as notícias de rádio, assistia aos debates e ia à cidade uma vez. por semana. Visitava os comitês eleitorais, coletava folhetos informativos e comprava jornais. Percebeu que o momento estava propício para uma entradinha de propaganda, pediu a palavra e fez um discurso sobre as peculiaridades do seu candidato. Depois de inúmeros elogios, com a plateia atenta e silenciosa, reforçou as qualidades do Dr.Florisbelo. Explicou: — Ele é um homem pobre, não tem carro, vive em um apartamentinho sem elevador, merece nossa confiança. Um silêncio de ouro! Levantou-se um baixinho, jovem, bigode grande, chamado Baltazar e falou alto: — Seu Bruno, por esta eu não esperava, nunca ouvi dizer que pobreza fosse vantagem. Caíram na gargalhada e seu Bruno tentou explicar, mas não conseguiu. O Baltazar continuou com suas hipóteses: — Conheço gente rica honesta que trabalha, administra o que tem e respeita o alheio. Este cara tão pobre não me serve, ou não trabalha, não faz economia ou não sabe administrar seu dinheiro. Como é que vai gerenciar o que é do povo? Se entrar lá vai sair rico. Não. Meu voto não! Sentou-se calmo. A discussão pegou fogo, ninguém mais se entendia. Voltaram a falar do Juca. Comprometeram-se com a pesquisa sobre sua idoneidade moral. Consenso!
Combinaram novo encontro para a apresentação da melhor escolha de cada um. Foram para suas casas esfriar a cabeça, coletar informações oficiais e pensar na eleição. Izabel Camargo
Enviado por Izabel Camargo em 18/10/2014
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