TELEFONEMA SEM NÚMERO

O telefone celular estava distante da cozinha, enquanto eu trabalhava no setor da culinária. Preparava uma torta de liquidificador num sábado pela manhã. Decorava um bonito prato de salada mista para acompanhar a torta.  A cozinha estava aconchegante.

Na mesa de trabalho, ao lado do computador, alguém desejava minha presença. Interrompi minha tarefa. Peguei o celular, ele parou de tocar, olhei o número - “chamada não identificada”. Guardei o aparelho na mesa da sala.  Quando estava concluindo o preparo do prato de entrada, deixei o telefone chamando, demorei-me. No último toque, coloquei o fone ao ouvido:

— Alô!  alô!

— É a prima Rita.

— Sim. Silêncio...  Pode falar. Escutei.

— É a prima Rita.

E continuava, aflita:

— É a prima Rita.

Que estranho, não dizia mais nada. Quem será? Pensei. Falei de novo.

— Sim, pode falar, o que deseja?

— É a prima Rita, murmurou.

Tive uma ideia e perguntei:

— Com quem a senhora quer falar? Outro murmúrio.

— É a prima Rita

Repeti a pergunta. Aquela voz fininha, sonora respondeu:

— Com a Rosa.

— Ah! Não é aqui, não há ninguém com este nome.

Desliguei o telefone de imediato, toda arrepiada, pensando: que estranho, não conheço nenhuma Rosa. Prima!  Falando! Que prima?

Aquele fato, ficou  martelando na minha cabeça e a voz soando nos meus ouvidos. Procurei o número da chamada no telefone. Nada. Sem número.

Uma intuição informou--me: a prima Rita que falava é a prima que brincava comigo, quando pequena com quem convivi até aos oito anos. Visitou-me uns dias antes da sua viagem para a outra dimensão. Faz mais de quinze anos!

Perguntei-me por que Rosa, encontrei a explicação. É o nome de uma das suas filhas, minha prima em segundo grau. Fui advertida de que o vínculo afetivo permaneceu forte.

O celular do outro mundo não registrou número, sabe chamar. Brinquei no telefone...  É fantástico!

Na era digital a comunicação acontece sem deixar sinal físico. Não pude retornar a conversa pelo telefone celular.

Que pena!

Falei com a prima em pensamento e enviei mensagem de luz, dizendo:

A vida é virtual...